(João Francisco Vilhena e Pilar del Río)
“A história de um abraço que começou em Estocolmo, em 1998, e que ainda não terminou.” Assim define João Francisco Vilhena o livro Lanzarote, a janela de Saramago, que reúne fotografias suas e fragmentos de textos de José Saramago. A obra foi lançada este sábado, dia 10, no LeV (Festival Literatura em Viagem), em Matosinhos.
“Quis construir uma ficção fotográfica, um diário fotográfico, a partir das suas palavras”, explicou Vilhena, que também apresenta duas exposições na Galeria Municipal, onde decorre o encontro literário: uma sobre Lanzarote e Saramago, complementar ao livro; e a outra com retratos de escritores.
Pilar del Río, presidenta da Fundação José Saramago (FJS), recordou o início da relação de amizade entre fotógrafo e escritor. Foi em 1998, quando Vilhena viajou a Lanzarote para retratar o literato – imagens que foram mostradas em dezembro daquele ano, em Estocolmo, na entrega do Prémio Nobel a Saramago. “Aquela exposição foi algo absolutamente alucinante, com fotos de mais de dois metros de altura, e ficou na nossa memória. Mas a memória é um espaço excessivamente pequeno, e então João alimentou durante anos o sonho de fazer novas fotos”, contou a jornalista espanhola.
O novo “reencontro” aconteceu em 2013, quando Vilhena viajou a Lanzarote, a convite de fundação, para fotografar a ilha, já sem o Nobel português. “Lancei-me à estrada, li e reli os Cadernos. Saramago dizia que os diários são romances de uma personagem só, isso é indicador dos caminhos que José percorre nos Cadernos. São reflexões profundas sobre sua existência, sobra sua vida, sobre seu amor”, explicou Vilhena.
Sobre o longo intervalo entre o início do abraço, em Estocolmo, e a publicação do livro com fotos inéditas de Saramago e Lanzarote, Vilhena explica que foi preciso uma preparação e um amadurecimento. Em síntese, foi preciso tempo. Reflexão que foi ao encontro das palavras de João Rodrigues, editor do livro (Sextante/Porto Editora), que definiu o trabalho como um “exercício sobre o tempo”. “O tempo que passámos com os outros e o tempo que passa”, disse. Pilar del Río leu a obra da mesma maneira. Para ela trata-se de uma “meditação sobre o tempo” e o lugar. “Os Cadernos de Lanzarote são reflexões sobre a velhice, as pedras, a presença e a ausência. Acho que quando Saramago escrevia nos Cadernos, de algum modo já estava a fazer uma seleção de textos para este livro de Vilhena”, concluiu a presidenta da FJS. As palavras emocionaram Vilhena, que terminou sua intervenção, e a sessão, da seguinte forma: “Tudo isso faz-me lembrar uma frase de um outro homem de quem eu gostava muito, António Variações: ‘Todos nós temos Amália na voz’. Eu não sei cantar, mas posso dizer que tenho Saramago na voz e no olhar.”
Depois vieram mais abraços.
Na imprensa:
E Saramago tornou-se paisagem
(Revista 2/Público)
“Lanzarote, a janela de Saramago”
(TVi 24)
Saramago lembrado com livro e exposição no LeV
(Rádio Renascença)
“A janela de Saramago”assinala 15 anos da entrega do Nobel
(RTP)
Los lugares de Saramago en Lanzarote
(El País)
Passeio para confidências entre vulcões
(Ionline)
Pilar del Río presenta el libro “Lanzarote, a janela de Saramago”
(La Voz de Lanzarote)