Una luz inesperada
E houve também aqueles dois gloriosos dias em que fui ajuda de pastor, e a noite de permeio, tão gloriosa como os dias. Perdoe-se a quem nasceu no campo, e dele foi levado cedo, esta insistente chamada que vem de longe e traz no seu silencioso apelo uma aura, uma coroa de sons, de luzes, de cheiros miraculosamente conservados intactos
Portugal
«Y también estuvieron aquellos dos días gloriosos cuando fui ayudante de pastor, y la noche intermedia, tan gloriosa como los días. Perdonen a los nacidos en el campo, y arrancados de él prematuramente, esta llamada insistente que viene de lejos y trae en su silenciosa súplica un aura, una corona de sonidos, de luces, de olores milagrosamente preservados intactos. El mito del paraíso perdido es el de la infancia; no hay otro. El resto son realidades por conquistar, soñadas en el presente, guardadas en el futuro inalcanzable. Y sin ellas no sé qué haríamos hoy. No lo sé.»
Neste fragmento de A Bagagem do Viajante (1973), José Saramago recorda o dia em que foi ajudar o tio a vender porcos na feira. O reconto dessa experiência aparentemente comum espelha todo o seu poder narrativo, levando-nos para um mundo de deslumbramento que só a infância permite, e que Armando Fonseca ilustra na perfeição.
Brasil
Um conto sobre o deslumbramento da infância — e como esses sentimentos continuam a ressoar na vida adulta –, escrito por um dos grandes autores de língua portuguesa.
Este texto foi publicado pela primeira vez no livro A bagagem do viajante (Companhia das Letras, 1996), com o título “e também aqueles dias”.