José Saramago / A Obra / Bibliografia

Provavelmente Alegria

Provavelmente Alegria
1970

Não tive ilusões, a minha poesia é o que é, limpa, honesta e em algum momento terá sido algo mais do que isso mas, enfim, não vou ficar na História como poeta. Suponho que se ficar na História será como um romancista que também fez alguns versos

José Saramago

Loja

Portugal

Provavelmente Alegria

2014 (1ª edição na Porto Editora; 7ª edição)


Idioma
Português

A caligrafia da capa é da autoria do escritor Nuno Júdice

A segunda investida poética de Saramago surge quatro anos após Os Poemas Possíveis. São poemas de sombra e de luz, entrançados, de uma elaboração feita através do seu próprio avesso, simultaneamente de mar e de trevas. «Devagar, vou descendo entre corais. / Abro, dissolvo o corpo: fontes minhas / De águas brancas, secretas, reunidas / Ao orvalho das rosas escondidas.»

Poemas na altura inovadores, marcados pelo amor dito-escrito em transparências breves, imprecisas, e uma certa amargura-tristeza bem portuguesas, na sua raiz claramente lírica. A paixão parece sobrepor-se à militância: «Branco o teu peito, ou sob a pele doirado? / E os agudos cristais, ou rosas encrespadas / Como acesos sinais na fortuna do seio? / Que morangos macios, que sede inconformada, / Que vertigem nas dunas que se alteiam / Quando o vento do sangue dobra as águas / E em brancura vogamos, mortos de oiro.» E o erotismo faz, de forma decidida, a sua aparição em verso: «Teu corpo de terra e água / Onde a quilha do meu barco / Onde a relha do arado / Abrem rotas e caminho.»

Diário de Notícias, 9 de outubro de 1998